No folclore britânico, existe uma história antiga e misteriosa que continua sendo tema de discussão até hoje. Diz-se que no século XII, na aldeia de Woolpit, Suffolk, apareceu um par de irmãos de pele verde, que alguns consideram uma lenda medieval, enquanto outros especulam que pode ser um registo antigo de contacto extraterrestre. Independentemente da verdade, os Filhos Verdes de Woolpit cativaram a curiosidade de inúmeras pessoas com seu charme único.
A história das crianças verdes
Na época da colheita de um certo ano do século 12, os aldeões que faziam a colheita perto de St. Mary’s Wolf-pits de repente descobriram um irmão e uma irmã estranhos. A pele deles era verde, usavam roupas feitas de materiais nunca vistos antes e falavam uma língua que ninguém conseguia entender. Os aldeões ficaram surpresos e perplexos, levando-os ao centro da aldeia, onde foram acolhidos pelo proprietário de terras local, Sir Richard de Calne.
A placa de sinalização na vila de Woolpit, Inglaterra, marcando a origem da lenda dos Filhos Verdes de Woolpit do século XII.
Embora os irmãos parecessem com muita fome, recusaram toda comida até descobrirem feijões recém-colhidos, que devoraram com gosto. Meses depois, eles gradualmente aceitaram outros alimentos como o pão. No entanto, a saúde do menino piorou e ele acabou morrendo. A menina, por outro lado, adaptou-se ao novo ambiente, com a pele voltando ao normal. Depois de aprender inglês, ela se integrou à comunidade local, supostamente chamada de Agnes Barre, e se casou com um homem da vizinha King’s Lynn, em Norfolk, que supostamente era um diplomata na época de Henrique II.
Ruínas da Abadia de Bury St Edmunds, Woolpit.
A menina contou as origens dela e do irmão: eles vieram da “Terra de São Martinho”, um mundo subterrâneo onde era sempre crepúsculo, sem sol, e onde todos os habitantes tinham a pele verde. Ela se lembra de ter entrado acidentalmente em uma caverna enquanto pastoreava, de se perder na escuridão e de seguir o som dos sinos para emergir em um mundo iluminado pela luz do sol, onde foram encontrados por agricultores fazendo a colheita.
Registros de Crônicas Medievais
A Historia rerum Anglicarum (“História dos Assuntos Ingleses”) de Guilherme de Newburgh conta a história dos Filhos Verdes de Woolpit.
Os Filhos Verdes de Woolpit foram documentados por dois cronistas medievais. Ralph de Coggeshall descreveu o evento em detalhes em seu “Chronicon Anglicanum”, com informações provenientes de Sir Richard, que acolheu as crianças. Guilherme de Newburgh também mencionou o evento em sua “Historia rerum Anglicarum”. Ambos situaram a ocorrência durante o reinado do rei Estêvão ou Henrique II. Os registros históricos formais conferem credibilidade à história, atraindo a atenção de estudiosos das gerações posteriores.
Explicações razoáveis para as crianças verdes
Numerosas teorias surgiram sobre a verdade por trás das Crianças Verdes. Uma explicação médica para sua pele verde é que eles sofriam de “doença verde”, ou anemia hipocrômica, que poderia deixar a pele verde devido à desnutrição. O retorno da pele da menina ao normal após a adoção de uma dieta regular corrobora essa teoria.
Quanto à sua identidade, alguns acreditam que eram órfãos flamengos. Paul Harris sugeriu que eles poderiam ter vindo de Fornham St. Martin, um vilarejo do outro lado do rio Lark, em Woolpit. No século 12, muitos imigrantes flamengos fugiram para a Inglaterra devido à guerra e à perseguição, mas foram perseguidos novamente sob Henrique II. Se os irmãos estivessem fugindo dos órfãos flamengos, escondendo-se na floresta, descobrindo uma mina ou túnel para chegar a Woolpit, a sua língua e roupas desconhecidas teriam causado surpresa entre os aldeões. A sua desnutrição também poderia ter levado à “doença verde”.
Eles eram de outro planeta?
Além de explicações razoáveis, muitos deram à história uma interpretação sobrenatural. Em 1621, Robert Burton mencionou em “The Anatomy of Melancholy” que as Crianças Verdes “desciam do céu”, gerando especulações sobre o envolvimento extraterrestre. Em 1996, o astrônomo Duncan Lunan publicou um artigo na revista “Analog”, levantando a hipótese de que as crianças vieram de um exoplaneta bloqueado pelas marés e chegaram à Terra através de um dispositivo de teletransporte. Ele elaborou ainda mais essa ideia em seu livro de 2012, “Children from the Sky”.
Crianças Verdes retratadas por um artista.
Outros ligaram a história a universos paralelos ou espaços dimensionais, sugerindo que as crianças podem ter vindo de dimensões diferentes, rompendo barreiras dimensionais para o nosso mundo. Tais interpretações não são incomuns na ficção científica moderna.
Para concluir
Do século XII até os dias atuais, a lenda dos Filhos Verdes de Woolpit se estende por oito séculos, com discussões e pesquisas nunca cessando. Quer se trate de um acontecimento verdadeiro, de um folclore ou de um fenómeno sobrenatural, esta história continua a atrair geração após geração com o seu encanto único.
Esta lenda reflete o medo e a curiosidade da sociedade medieval em relação ao desconhecido, mostrando o desejo da humanidade de explorar o mundo desconhecido. Inspirou inúmeras obras literárias, abrangendo poesia, romances, óperas e peças de teatro, e até encontra ecos na cultura popular moderna.
Talvez nunca saberemos a verdade por trás das Crianças Verdes, mas é esse mesmo mistério e enigma que mantém a história fresca, atraindo continuamente a curiosidade de inúmeras mentes em todo o mundo. Isso nos lembra que ainda existem muitos mistérios não resolvidos no rio da história, esperando que os exploremos e descubramos.